O médico Walbert Martins de Carvalho foi o primeiro coordenador da Central de transplantes de Sergipe. No início deste ano ele se aposentou do serviço público e por isso pedimos que ele nos desse um depoimento sobre a sua passagem pela CNCDO/SE. Depoimento esse que transcrevemos a seguir.
"A central de Transplantes, para mim, no início foi um desafio, pois eu não tinha familiaridade com o tema, não tinha experiência nenhuma. Fui convocado pela Secretária de Estado da Saude e começamos a fazer isso lá pelo ano 2000. E, do papel, de uma folha que me colocava como Coordenador da Central de Transplantes, a gente começou a construir um time, construir uma equipe e fazer toda a infraestrutura da Central, que é uma estrutura bastante complexa.
A Central de transplantes trabalha, lida, evidentemente, com transplante, que é o topo da complexidade, da pirâmide de complexidade da medicina.
E desse desafio inicial, que eu imaginava fosse muito curto, porque eu imaginava que apenas iria montar a Central, terminou me prendendo, me entusiasmando, eu fui me interessando. A atividade de transplante ela é fascinante. É você pegar aquele paciente que está numa fase em que não tem mais o que a medicina oferecer a ele, a medicina já declara sua incapacidade de curar esse paciente e aí, nesse ponto, a sociedade oferece um órgão novo a esse paciente através de uma doação. Como não existe como consertar aquele órgão doente, a Central de Transplantes, a equipe de transplante, a sociedade como doadora, esse verdadeiro mutirão que é feito, oferece um órgão novo e uma vida nova a esse paciente. Isso é uma coisa extremamente gratificante.
Para mim foi um aprendizado muito importante, foi uma época que eu aprendi muita coisa não só em termos técnicos mas também em humanismo, em socialização, em sociabilização de lidar com as pessoas, com a dor das pessoas porque você, na Central de Transplantes, no dia a dia, você se acostuma a lidar com a dor e a alegria: a dor de quem vai doar um órgão, que perdeu um ente querido e a alegria de você proporcionar a um paciente, uma recuperação. Esses dois extremos que são o dia a dia da Central, a gente só encontra isso no setor de transplantes. É uma coisa realmente única e fascinante. Eu acho que o transplante é uma área que ainda não está sendo entendida e priorizada pela sociedade apesar de alguns dirigentes, gestores, já tentarem priorizar, mas a gente esbarra na falta de entendimento da sociedade como um todo.
Para o leigo, até hoje, é difícil lidar com a doação de órgãos. Existe muito preconceito, muita falta de esclarecimento e, nesse sentido, o mais importante é exatamente esclarecer, é mostrar serviço, é divulgar para as pessoas entenderem que aquele órgão que será jogado fora pode representar a recuperação, a vida normal de outro ser humano.
A minha experieência com a Central eu resumiria dizendo que foi extremamente positiva e só não foi mais positiva porque eu gostaria de ter feito mais; gostaria de ter conseguido mais. Mas as dificuldades não foram poucas e, apesar da equipe que nós conseguimos, uma equipe muito boa que parcialmente continua até hoje trabalhando, uma equipe extremamente compromissada, comprometida, apesar disso não conseguimos mais por conta dessa falta de entendimento, de esclarecimento da sociedade."
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